Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), três coisas são fundamentais no desafio de controlar a expansão da Covid-19: tester o maior número possível da população, fazer isolamento social e mapear quem entrou encontrou em contato com pessoas infectadas. Em inglês, o último passo é conhecido como contact tracing – uma expressão que tem tudo para se tornar tão onipresente quanto “achatar a curva”.
“É basicamente apenas uma versão digitalmente aprimorada do rastreamento manual de pessoas infectadas”, diz Renato Leite Monteiro, fundador e professor do Data Privacy Brasil. No oitavo episódio do Dadocracia, podcast sobre sociedade e tecnologia do Data Privacy Brasil, Renato e a pesquisadora Iasmine Favaro discutiram as perspectivas e problemas da implementação de contact tracing a partir de telefones celulares.
Em países da Ásia como Taiwan, Singapura e Coreia do Sul, o governo já usa métodos de contact tracing para monitorar a disseminação do novo coronavírus. Na medida em que há a perspectiva de que estratégias semelhantes sejam adotadas no Ocidente, entidades como o Conselho Europeu de Proteção de Dados já se posicionam sobre como isso poderia ser feito.
“Eles foram bem claros ao afirmar que o uso desse tipo de tecnologia depende do consentimento do titular dos dados”, explica Iasmine. “É especialmente, nesse contexto, usar o mínimo possível de dados pessoais, ou seja, apenas aqueles estritamente necessários para atingir essa finalidade do contact tracing.”
Frente a esse desafio, Appl e Google lançaram em conjunto uma metodologia de contact tracing baseada em bluetooth que em teoria garantia a anonimidade daqueles que forem submetidos a ela – a princípio, uma pessoa infectada precisaria informar ao sistema de vontade própria que tem ou teve Covid-19.
No entanto, mesmo essa iniciativa já sofre críticas variados, tanto no que diz respeito à robustez do método, quanto a vulnerabilidades de segurança e inclusive a possibilidades de trollar o sistema como um todo.
“O bluetooth não é particularmente seguro, o que significa que existem várias maneiras de explorar esse método, caso haja algum invasor com essa intenção e conhecimentos suficientes para isso”, afirma Renato. “E nada é realmente anônimo. Embora o sistema pareça funcionar com um número mínimo de dados, ainda podem ser usados para fins nefastos se alguém colocar as mãos neles.”
Encontrar a maneira certa de fazer o contact tracing é um desafio complexo. Ouça ao oitavo episódio do Dadocracia para entender o quanto.